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Princesinhas e Avatares

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cartaz-princesa-sapoCuriosa época em que os contos de fadas querem ser mais maduros do que a ficção adulta.

A Princesa e o Sapo, a nova animação 2d da Dysney, confirma uma regra que começou a se estabelecer desde os anos 80: não é politicamente correto contar estórias infantis onde personagens femininos são vítimas passivas à espera do macho salvador. Fábulas como Branca de Neve e Bela Adormecida, que esperam desacordadas seu príncipe encantado, são desvalorizadas na era pós-feminista. Precisamos agora de mulheres decididas e guerreiras como Mullan ou trabalhadoras e empreendedoras como Tiana, deste novo filme, que além de mulher é negra (aspecto revolucionário em si). Ao contrário da tradição, as novas mulheres das fábulas do século XXI é que precisam salvar seus príncipes apalermados e incompetentes dos perigos da vida. Como as mulheres contemporâneas da vida real, trabalham por dois.

Mais conservador, o novíssimo e pseudo-revolucionário Avatar aposta na antiga idéia de que as vítimas indefesas só podem ser salvas pela intervenção do homem branco. Estamos diante da mesma lógica de filmes como O Último Samurai ou mesmo A Lista de Schildler: as vítimas são representadas por um pequeno grupo étnico específico (judeus, japoneses, Na´vis), impotentes contra uma ameaça externa; o salvador que surge é um homem branco imperfeito (alcoolatra, egocentrico, egoísta) que se redime a partir da imersão na cultura diferente e se torna mais nativo que os próprios nativos — Tom Cruise se torna mais samurai que os samurais japoneses, Schindler recebe homenagens como num enterro judeu, Jake consegue unificar as várias tribos Na´vi etc. As vítimas continuam em segundo plano e ao final cobrem o salvador da pátria de glórias como um semi-deus, reafirmando indiretamente sua superioridade como homem e branco.

Este ano, o filme “adulto” que mais subverteu essa lógica foi Bastardos Inglórios. Nele, as vítimas (judeus e negros) não esperam por ajuda, partem logo para a vingança contra os nazistas. O impressionante é que conseguem contra todas as adversidades e até mesmo contra a “História”.

Filmes como Bastardos Inglórios e A Princesa e o Sapo, aparentemente despretensiosos e escapistas, mostram-se no fundo profundamente políticos ao subverter a lógica tradicional da vitimização holywoodiana: se forem ameaçados, esperem por ajuda externa.


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